O fenômeno Bolsonaro

Poucas coisas retratam tão bem a mediocridade da elite intelectual brasileira quanto o debate político travado por aqui.

De fato, nós somos uns ferrados. Metade do país não possui acesso nem à coleta de esgoto. Nós literalmente não damos conta sequer de ir ao banheiro com o mínimo de dignidade.

E não é como se os nossos problemas morressem na privada. Longe disso. 44% dos brasileiros sobrevivem com menos de um salário mínimo. Faz ideia do que é encarar a vida lá fora todos os dias com 460 reais por mês? Essa é a realidade de mais de 50 milhões de pessoas por aqui.

A gente mora num puxadinho da África subsaariana. Nós ainda sequer conseguimos resolver boa parte dos problemas que nos atormentavam no século dezenove. Mas a julgar o que realmente importa no nosso debate público, o que gera discussões acaloradas pelas mentes mais brilhantes deste país, nascemos todos em algum canto tropical perdido da Noruega.

73% dos brasileiros não são plenamente alfabetizados na língua portuguesa. Se você parar, no entanto, para ouvir o que se discute nas nossas universidades, vai jurar que está preso a uma convenção do partido Democrata.

Genderqueer, slut shaming, gaslighting, mansplaining, male tears.

Não é muito difícil perceber as consequências dessa baboseira toda. Gravem bem: a nossa elite intelectual realiza um esforço estupendo para conduzir Jair Bolsonaro ao posto mais alto da República. E o pior, vai demorar alguns bons meses ainda até se dar conta disso.

Quanto mais protagonismo nós damos aos problemas enlatados do primeiro mundo, quanto mais fingimos que o que realmente importa por aqui são discussões aleatórias sobre os limites de expressão da arte ou o que pensa um bando de narcisistas da zona sul do Rio de Janeiro – gente esquizofrênica o suficiente para acreditar que governa o país do apartamento da Paula Lavigne – maiores são as apostas no ticket de Bolsonaro.

Até a gente perceber que o Brasil não cabe numa manchete do Catraca Livre, não vai faltar saguão de aeroporto lotado pra abraçar o único candidato à presidência que está disposto a dialogar no mesmo idioma que o cidadão comum. Faça você campanha contra ou a favor da sua plataforma política.

O Brasil não é a Avenida Paulista. Lá fora, quando acabar o dia, 160 pessoas terão sido assassinadas brutalmente. O Brasil é uma imensa Rocinha.

Mais de 13 milhões de brasileiros são oficialmente incapazes de sequer começar a ler um texto como esse pela única razão de serem analfabetos. Você é um privilegiado só de ter chegado até esse parágrafo. Segundo a ONG Ação Educativa, apenas 8% das pessoas que moram nesse país têm condições de compreender e se expressar plenamente em seu próprio idioma.

Percebeu? Longe do MASP esse é o único debate em torno da liberdade de expressão que importa nesse momento.

Quem irá decidir a eleição do ano que vem não é a Fátima Bernardes. Nem a Andreia Horta. É gente como a Dona Regina. E fora do Jardim Botânico ninguém aguenta mais ter que discutir problema de gente rica.

Enquanto não estourarmos essa bolha e enxergar o Brasil real que existe além das afetações ideológicas da nossa classe média, enquanto não trouxermos para o centro do debate os problemas que afetam de verdade a vida de gente que não faz ideia do que significa “lacre”, “grito” ou “close errado”, enquanto continuarmos fingindo que moramos em Bruxelas, Bolsonaro nadará a braçadas nas pesquisas de opinião.

Definitivamente não terá sido por falta de aviso. E eu estou esperando por isso.

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Do amor

Doamos nosso amor sem perceber, como se fosse um conta-gotas, deixamos gotejar dia após dia até que um dia nos damos conta da sua grandeza. E quando este dia chega, nada mais tem controle. É como se fosse um rio descendo uma encosta: arrasador, forte, impetuoso.

Poucas vezes sentimos verdadeiramente o amor, embora achamos que o encontramos de tempos em tempos, basta que alguém nos invada e faça a diferença, ínfima que seja para que acreditemos que o amor bateu á nossa porta. É verdade que confundimos o amor com carência, medo de solidão ou qualquer coisa que nos tire do eixo, do centro daquilo que somos.

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Amantes da fantasia

“A imaginação é o direito constitucional para viver de novo. Não desperdice a vida com uma única vida.”
Fabrício Carpinejar

Quando reflete sobre si, o homem comum se vê como alguém racional, lúcido, com os pés no chão, mas que às vezes é tomado pela fantasia. Os psicanalistas acreditam no contrário: o homem sonha a maior parte do tempo, e em certos momentos, geralmente a contragosto, acorda. Passamos um terço da vida dormindo, portanto sonhando, e quando estamos despertos nossos devaneios ocupam um tempo muito maior do que imaginamos. Mesmo trabalhando estamos fantasiando estar em outro lugar, com outras pessoas, fazendo outras coisas. Passamos um mês de férias, mas os outros onze sonhando com elas, assim como o sábado e o domingo não ocupam somente esses dois dias em nossos pensamentos.

A vida amorosa e sexual é muito maior e mais variada na fantasia do que na realidade. Sem falar nos devaneios de grandeza: imaginamos cenas em que estamos no centro das atenções do mundo, realizamos feitos fantásticos, de um heroísmo desprendido, nos quais somos generosos, conquistando a admiração de todos. Isso no melhor dos casos, pois se estivermos ressentidos, frustrados, derrotados, a fantasia será alimentada por impulsos agressivos e então imaginariamente nos vingaremos dos desafetos em grande estilo, criando roteiros infernais para todos os que nos
atrapalharam. Basta um pouco de sinceridade para verificar que a fantasia ocupa um lugar maior na vida do que admitimos.

Sempre que podemos utilizamos algum escape da nossa realidade. Se nossa cabeça está cansada ela usa fantasias emprestadas: as novelas de TV, os filmes, as séries, os romances, ou mesmo pode utilizar-se de fatos corriqueiros para estruturar sonhos e devaneios. Por exemplo, uma partida de futebol é muito mais do que seus 90 minutos de realidade: no esporte, passado, presente e futuro se misturam; o jogo de agora é uma vingança de uma partida anterior, na qual se está somando pontos hoje para uma conquista épica, que virá daqui a meses, segundo a esperança do fiel torcedor; ou seja, a fantasia desborda a realidade do embate e o inflaciona de sentidos.

O senso comum nos leva a acreditar que somos aquele que está acordado, que o eixo do nosso ser, o nosso verdadeiro eu, encontra-se assentado na realidade, e não está contaminado por esse caldo múltiplo de fantasias que nos atravessam o tempo todo. Mas, gostemos ou não, somos o resultado, o somatório, do desperto com o sonhador, até porque nem sempre é possível delinear uma rígida separação entre os dois, tampouco é possível, nem necessário,
definir qual é o mais importante. Na prática, somos casados com a realidade, mas só pensamos em nossa amante: a fantasia.

Apesar disso, não existe uma correspondência entre a importância de sonhar e fantasiar, esse homo onírico que somos, dado o papel que a fantasia ocupa em nossa vida, com uma reflexão sobre ela. Subestimamos a fantasia, sobretudo porque a julgamos acessória, ela não passaria de um escape, um desvio de rota do prumo da realidade. Quando muito, admitimos que a fantasia serviria de consolo, nos ajudaria a suportar os fatos reais da vida, o que é certo, mas raramente acreditamos que ela nos constitui, nos molda e faz parte da arquitetura da nossa personalidade. Na contracorrente desse entendimento, que acusa a fantasia de escapista, bovarista, de tornar-nos incapazes de avaliar a objetividade dos fatos, pensamos que a experiência de imaginar histórias, ou mesmo embarcar naquelas que outra pessoa criou, nos torna mais sagazes, profundos, capazes de enfrentar reveses e compreender complexidades. “A boa literatura, enquanto aplaca momentaneamente a insatisfação humana, incrementa-a e, fazendo que se desenvolva uma sensibilidade inconformista em relação à vida, torna os seres humanos mais aptos para a infelicidade”, escreveu Mario Vargas Llosa. A experiência artística nos coloca em sintonia com a fantasia alheia, ela amplia os horizontes aos quais podemos chegar com o uso da própria imaginação e abre a possibilidade
de questionar a realidade, tanto a pessoal como a coletiva. Compartilhar fantasias é o que fazem os artistas com seu público e os pais com os filhos ao contar-lhes histórias. “Incivilizado, bárbaro, órfão de sensibilidade e pobre de palavra, ignorante e grave, alheio à paixão e ao erotismo, o mundo sem romances, esse pesadelo que procuro delinear, teria como traço principal o conformismo, a submissão generalizada, dos seres ao estabelecido”, acrescenta Llosa. Conscientes desse poder da fantasia, as ditaduras baniram boa parte dos artistas e suas obras, pois um rebanho que não sonha não transcende as cercas que o encarceram.

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Olhos fechados

Eu juro que tento sempre construir amizades sinceras, leais, não egoístas e autênticas. Mas, meus amiguinhos, está bem complicado viver nessa Era do cada qual no seu casulo. Tristes tempos de egolatrias, egocentrismos e espelhos que não refletem. A gente grita e nem eco volta. Tempos de muita informação e pouquíssima significação. Época de muito vozerio berrante, alarido constante, em que cada qual nem mesmo ouve a si próprio.

Isso me lembra dois textos. Um do fantástico Jean Baudrillard, pinçado do seu livro Simulacros e Simulação:

“Estamos num universo em que existe cada vez mais informação e cada vez menos sentido.”

E me faz lembrar também de um trecho de um poema do livro Máquina mundi, quando o autor descreve o vazio nosso de cada dia, revelado e refletido em nossas telas elétricas contemporâneas:

“Nessas mesmas telas, só sombras, sobras, fragmentos da vida,
e não a gigante e real dimensão que é estar vivo nela.
Pedaços de gente, de sonhos, de planos, de vozes, de ideias
pululam e mesclam-se; como fantasmas errantes se alternam
à procura de atenção, numa fila de espera, e vociferam,
nessa bacanal — ou baile de máscaras — onde tudo é festa.”

Ao fim desse mesmo poema, chamado Caverna Pós-moderna, são estes os versos de seu desfecho reflexivamente trágico e tristonho:

“Imagina, Glauco, esses homens com essas telas a sós falando,
por todos os dias de todos os meses de todos os anos,
procurando por ver a si mesmos e também os outros homens,
mas as janelas elétricas, que nada escondem, nem respondem,
ligadas, são luzes que não iluminam o que há defronte a elas,
desligadas, são espelhos mostrando uma cara cheia de fomes.”

Não são as máquinas que estão vazias. Muito pelo contrário, estão inundadas de TUDO. E nós? Inundados de NADAS!

Feliz Era Vazia, Egóica e Solitária para todos nós!!!!

[In] Tolerante

Eu não sei se a idade nos torna tolerantes ou pacientes para lidar com determinadas situações. O fato é que entramos cada vez menos em debates acalorados, seja em que esfera for, nas redes sociais então? ALT + F4 é um bálsamo.

Quando a gente é mais novo e tem mais tempo e mais disposição para nos inflamarmos com qualquer assunto que vem à tona, é um deus-nos-acuda, não poupamos amigos, conhecidos, e, pior, cometemos muitas, muitas faltas. A primeira e a maior delas é a mais óbvia e a menos respeitada: Todas as pessoas têm direito à manifestação de pensamento, ou seja, eu tenho a minha opinião e você tem a sua. Curiosamente costumamos tomar para si todas as verdades como absoluta e imutável tábua da salvação. Não é bem assim, nem mesmo a ciência é fechada em certezas.

A vida, as concepções e a realidade nos muda em muitas coisas, nos torna tolerantes (ou intolerantes) em outras. Raul Seixas já cantava que preferia ser uma metamorfose ambulante, talvez ele soubesse que ter opinião formada sobre tudo é cansativo e pedante. Graças a Deus eu não sei o suficiente para falar de tudo. E descobri há bem pouco tempo que três palavrinhas me salvam de muitos aborrecimentos e discussões infrutíferas e absolutamente desnecessárias.

Dizer “eu não sei” é um alívio que quase te leva ao nirvana quando percebe o nível que aquela discussão que você evitou vai chegar em um nível absurdo de: estupidez, verdades refutáveis e mais uma série de idiotices. Se você tem a oportunidade de assistir de camarote o desenrolar dela, aprecie e agradeça por sua maturidade.

O que é a tal felicidade, afinal?

Nossos políticos e estudiosos em geral consideram em seus cálculos a poluição do ar, a publicidade do fumo e as ambulâncias que rodam para coletar os feridos em nossas rodovias. Eles registram os custos dos sistemas de segurança que instalamos para proteger nossos lares e as prisões em que trancafiamos os que conseguem burlá-los. Eles levam em conta a destruição de nossas florestas e sua substituição por uma urbanização descontrolada e caótica. Elem incluem a produção de armas nucleares e dos veículos armados usados pela polícia para reprimir a desordem urbana. Eles registram em  programas de televisão que glorificam a violência para vender brinquedos a crianças.

Por outro lado, não observam a saúde de nossos filhos, a qualidade de nossa educação ou a alegria de nossos jogos. Não mede a beleza de nossa poesia e a solidez de nossos matrimônios. Não se preocupam em avaliar a qualidade de nossos debates políticos e a integridade de nossos representantes. Não consideram nossa coragem, sabedoria e cultura. Nada dizem sobre nossa compaixão e dedicação a nosso país. Em resumo, eles medem tudo, menos o que faz a vida valer a pena.

Observadores indicam que cerca de metade dos bens cruciais para a felicidade humana não tem preço de mercado nem pode ser adquirida em lojas. Qualquer que seja a sua
condição em matéria de dinheiro e crédito, você não vai encontrar num shopping o amor e a amizade, os prazeres da vida doméstica, a satisfação que vem de cuidar dos entes queridos ou de ajudar um vizinho em dificuldade, a auto-estima proveniente do trabalho bem-feito, a satisfação do “instinto de artífice” comum a todos nós, o reconhecimento, a simpatia e o respeito dos colegas de trabalho e outras pessoas a quem nos associamos; você não encontrará lá proteção contra as ameaças de desrespeito, desprezo, afronta e humilhação. Além disso, ganhar bastante dinheiro para adquirir esses bens que só
podem ser obtidos em lojas é um ônus pesado sobre o tempo e a energia disponíveis para obter e usufruir bens não – comerciais e não-negociáveis. Pode facilmente ocorrer, e frequentemente ocorre, de as perdas excederem os ganhos e de a capacidade da renda ampliada para gerar felicidade ser superada pela infelicidade causada pela redução do acesso aos bens que “o dinheiro não pode comprar”.

O consumo toma tempo (ir ás compras também), e os vendedores de bens de consumo são naturalmente interessados em reduzir ao mínimo o tempo dedicado à agradável arte
de consumir. Simultaneamente, eles se interessam em cortar o máximo possível, ou eliminar de uma vez, as atividades que ocupam muito tempo mas geram poucos lucros de mercado. Tendo em vista sua freqüência nos catálogos, as promessas contidas nas descrições dos novos produtos disponíveis – como “não exige nenhum esforço”, “não é necessária nenhuma habilidade”, “você vai curtir [música, paisagens, delícias do paladar, a limpeza renovada de sua blusa etc] em minutos” ou “com apenas um toque” – parecem presumir que haja uma convergência de interesses entre vendedores e compradores.

Mas, quaisquer que sejam os ganhos de uma transação como essa, seu impacto sobre a soma total de felicidade é, no mínimo, bastante ambíguo.

Vivemos numa era em que “esperar” se transformou num palavrão. Gradualmente erradicamos (tanto quanto possível) a necessidade de esperar por qualquer coisa, e
o adjetivo do momento é “instantâneo”. Não podemos mais gastar meros 12 minutos fervendo uma panela de arroz, de modo que foi criada uma versão de dois minutos
para microondas. Não podemos ficar esperando que a pessoa certa chegue, de modo que aceleramos o encontro … Em nossas vidas pressionadas pelo tempo, parece que
o cidadão do século XXI não tem mais tempo para esperar coisa alguma.

Ainda sou do tempo em que a espera era um prazer… Esperar parece ter se tornado um luxo,uma janela em nossas vidas estritamente agendadas. Em nossa cultura do ‘agora’, de Tablets, laptops e smartphones, os ‘esperantes’ veem a sala de espera como um refúgio. Talvez, a sala de espera nos relembre a arte, tão prazerosa mas infelizmente esquecida, de relaxar.

Seria possível, por exemplo, convidar um parceiro para um restaurante, servir
às crianças hambúrgueres do McDonald ou pedir “comida para viagem” em vez de preparar refeições “a partir do zero” na cozinha de casa; ou comprar presentes caros para os entes queridos como compensação pelo pouco tempo que passam juntos ou pela raridade das oportunidades de falarem um com o outro, assim como pela ausência, ou quase ausência, de manifestações convincentes de interesse pessoal, compaixão
e carinho?

Mas mesmo o gosto agradável da comida do restaurante ou os preços altos nas etiquetas e os rótulos prestigiosos fixados aos presentes dificilmente alcançarão o valor, em termos de felicidade agregada, dos bens cuja ausência ou raridade eles devem compensar: bens como reunir – se em torno de uma mesa com comida preparada em conjunto para ser compartilhada, ou ter uma pessoa que nos é importante ouvindo com atenção uma longa exposição de nossos pensamentos, esperanças e apreensões mais íntimos, e provas semelhantes de atenção, compromisso e carinho amorosos. Toda e qualquer oferta exige certo sacrifício da parte do doador, e é precisamente a consciência do auto-sacrifício que
aumenta seu sentimento de felicidade. Presentes que não requerem esforço nem sacrifício, e portanto não exigem a renúncia de outros valores cobiçados, são inúteis nesse quesito.
O grande humanista e psicólogo Abraham Maslow e seu filho pequeno compartilhavam o amor por morangos. A esposa de Maslow lhes oferecia morangos no café-da-manhã:
“Meu filho”, ele me contou, “era, como toda criança, impaciente, impetuoso, incapaz de saborear lentamente suas delícias e prolongar sua alegria por mais tempo; ele esvaziava o prato rapidamente e depois olhava, desejoso, para o meu, quase cheio ainda. Toda vez que isso acontecia, eu lhe dava meus morangos. E, sabe,” Maslow concluiu a história, “eu me lembro daqueles morangos parecendo mais gostosos na boca dele do que na minha…”.

Um dos efeitos mais seminais de se igualar a felicidade à compra de mercadorias que se espera que gerem felicidade é afastar a probabilidade de a busca da felicidade algum dia
chegar ao fim. Essa busca nunca vai terminar – seu fim equivaleria ao fim da felicidade como tal. Não sendo possível atingir um estado seguro de felicidade, só a busca desse alvo teimosamente esquivo é que pode manter felizes (ainda que moderadamente)
os corredores. Na pista que leva à felicidade, não existe linha de chegada. Os pretensos meios se transformam em fins: o único consolo disponível em relação ao caráter
esquivo do sonhado e ambicionado “estado de felicidade” é permanecer no curso; enquanto se está na corrida, sem cair exausto nem receber um cartão vermelho, a esperança de uma vitória futura se mantém viva.

Felicidade tem mais a ver com “como” do que com “o quê”.

Chin Up

Aquelas frases motivacionais nunca me motivaram, aliás, sempre fugi delas porque no mundo perfeito é tudo muito fácil, muito simples, bonito e tem cheiro de flor.  O mundo real não é bem assim. As frases de efeito servem, muitas vezes, como nosso atestado de fracasso. Aqui no mundo real é impossível ter bom humor todos os dias, gostar do espelho diariamente, tem dia que a gente não gosta de nada, não quer saber de nada.

Ninguém precisa de frases dizendo que toda mudança deve partir de nós, porque a gente sabe disso. E não há coisa pior no mundo do que gente que gosta de palpitar na nossa vida. Emagrecer, engordar, ter filhos, casar, trabalhar, tirar férias, trocar de emprego, renovar o guarda-roupa. Gente que palpita sem análise de consciência e muitas vezes com uma pitadinha de malícia.

A motivação deve ser intrínseca e que cada um tenha tempo para percorrer a sua. Hoje eu prefiro calendário a longo prazo e se antes eu não traçava metas, hoje vislumbro sim o amanhã que pretendo pertencer. As coisas ganham mais sentido se vierem de dentro para fora.

Hoje vivo mais como desejo, sem amarras do “querer ser” e “querer parecer”, se desejo, projeto aquilo e persigo até conseguir. Não vivo mais como outrora, gosto das regras, das escalas e entendi que só assim chego a algum lugar.

Debate político – organizações de apoio

Debate-na-rede-Record-em-SP-entre-candidatos-a-presidencia-da-ReOntem a Rede Record exibiu o debate político entre os candidatos presidenciáveis: Dilma Rousseff (candidata à reeleição), Aécio Neves, Marina Silva, Eduardo Jorge, Luciana Genro, Pastor Everaldo, Levy Fidélix.

Um debate político a uma semana das eleições já não é bem um debate, porque no cenário geral, embora as pesquisas de opinião sejam manipuladas, já é possível vislumbrarmos com alguma clareza o resultado que virá. Pensando em uma cenário em que três principais candidatos tenham uma real chance de chegar ao segundo turno, ontem o que vimos foi um “aparelhamento” de apoio. Os ataques eram claramente direcionados a Dilma e Marina, as duas apontadas com maiores possibilidades de vitória, o que deixa Aécio Neves numa posição bastante confortável, porque se de um lado ele foi poupado de ataques – visto que Dilma e Marina não fizeram outra coisa a não ser justificar os seus erros, e tentar explicar seus equívocos. Do outro lado, ele teve calma e clareza para responder as perguntas, expor sua visão política diante do cenário atual e aquilo que ele almeja, se eleito.

O que vimos ontem foi um show de farpas e encontro de comadres, mas vimos como nossos pretensos governantes têm visão limitada a cerca de grandes temas atuais, como a economia por exemplo. A candidata Luciana Genro, por exemplo, deu um grande show de despreparo e desespero. Vimos também candidatos conscientes da sua real estatura no cenário político atual, seja na sua ideologia, seja na sua fraqueza partidária. Embora cometa alguns equívocos (principalmente linguístico), o candidato Pastor Everaldo ainda tem alguma lucidez sobre os deveres e atribuições do Estado, acontece que em um país em desenvolvimento como o nosso, privatizar, desestatizar ainda assusta, ainda causa temor, visto que nosso país tem uma mentalidade mais voltada ao social – que não é ruim, de forma alguma. Mas um país que mantém sua cota atuante de que o povo não precisa de autonomia enquanto a nossa constituição prover direitos, que se morássemos em um país desenvolvido (culturalmente inclusive) tais leis seriam obsoletas, para não dizer ridículas.

Já tenho em mente um cenário dessas eleições, infelizmente longe do ideal que imagino, mas vamos aguardar as cenas dos próximos capítulos. O futuro ainda pode nos revelar grandes surpresas.

Sobre selfies

downloadEu não tenho motivo algum pra tentar justificar o real “motivo” deste texto tecendo uma crítica ácida a esta onda de Selfies inúteis que observo há tempos nas Timelines da vida. Sim, inúteis! Esta é a definição mais sensata e legítima que encontrei pra denotar a nova histeria coletiva e obsessiva que se alastra por estes perfis nada privados. Ainda ontem, me peguei rindo das publicações banhadas de hipocrisia, junto do paradoxo da pseudo-revolta de alguns amigos, colegas, ou nem isso, fazendo o maior rebu pela nada nobre atitude abusiva e “nonsense” da cidadã que tirou fotos no iPhone frente ao caixão do candidato morto em um acidente trágico.

Foi aí que pensei. Oras! Tá indignado, amigão? Então diga-me quantas vezes você curtiu a morbidez do seu semelhante, dando brecha e espaço para que ele desenvolvesse potencialmente a falta de bom senso? Quantos de nós não pagamos pelo pecado de aceitar tantas personalidades que compartilham bizarrices em nossos contatos? Muitas vezes, estas pessoas sequer fazem parte de nosso ciclo social, ou de amizade. Você acorda, toma seu café, abre seu perfil e ali está! Um emaranhado de fotografias desconexas, incabíveis e destrutivas que não combinam sequer com o propósito da frase.

Tá difícil imaginar? Eu te ajudo! Já perdi as contas de quantas vezes eu me deparei com publicações femininas em que a maluca insanamente (pleonasmo?) coloca afirmações e pensamentos como “Deus seja louvado” ou “Livrai-me de todo mal, amém” ilustrando sua foto de biquíni e biquinho em um clube vagabundo qualquer, semi-nua e “sensualizando”. Ahhh, mas a galera acha o máximo! Chegam ao delírio.

Mas aí, você publica suas fotos da formatura em engenharia aeronáutica, do doutorado no Canadá, do MBA nos EUA, dos seus pensamentos políticos by “LVM”, matemáticos, filosóficos, médicos, do trabalho voluntário que alimenta famintos nas calçadas frias, da participação ativa a salvação das gazelas amarelas da floresta, da sua família, do seu filho, da ação social no Red Cross na Palestina. E qual seu saldo de curtidas? Uma dúzia, talvez menos. Mas poxa, convenhamos! Nada se compara a uma foto de mulher pelada expressando todo seu talento e “persuasão”, ou sentada em uma privada fazendo xixi. Tá chocado? Então imagina o que eu penso, quando me deparo com a patetice de mulheres, às vezes mães de família (não, não é puritanismo meu) postando fotos dançando o Lepo- Lepo, “Cavalinho”, e afins que geram mais de mil compartilhamentos e milhões de curtidas. Ô, delícia! E a galera mais uma vez, vai ao estúpido delírio com todo este espetáculo legítimo da falta de respeito com a própria imagem.

É aí que eu me questiono. Será que é possível que tenha sobrado a mínima ou qualquer dignidade no “âmago” desta sociedade? Tem certeza que quer tal proteção divina, minha filha? Esta prática insólita tem se disseminado e se espalhado como um vírus em nossos feeds de “notícia”. Notícia! Irônico, não? Palavra que me soa quase como uma utopia “por estas redondezas”. O Facebook é um site de relacionamento, e os perfis são pessoais e íntimos, sim! A liberdade é algo que eu prezo, pois tenho como ideal os preceitos legítimos da liberdade, e respeitar as vontades individuais é meu lema. Acontece, que pra tudo nesta vida é preciso ter limites. Limite é aquilo que faz você olhar a sua volta e ter respeito pela imagem de uma família velando o pai que se foi, embora seu dedo coce pra registrar este momento fúnebre e de dor.

As pessoas perderam o bom senso e a moral. Eu noto que minha geração não quer entrar pra histórias por seus feitos ou contribuições, mas sim, por ser aquele cara que ganhou o prêmio “framboesa de ouro” sendo o babaca potencialmente popular na internet ou por sua piada imbecil, suas fotos desrespeitosa e desnecessárias ou por seus vídeos medíocres. Eu não tenho como respeitar a imagem de quem não se respeita. E se você acha que é excesso de puritanismo, radicalismo ou extremismo, então abra sua página pessoal, meu amigo, e dê um “curte” e “compartilha” na sua nobre colega sem noção que pagou biquinho na cerimônia de despedida de um ser humano morto. “Aqui jaz” minha salva de Selfies a esta sociedade sem princípios e valores. E aproveitem enquanto os preceitos do bom senso estão perdidos no meio de tantas “auto-fotografias”.

Estamos na era do exercício em plenitude da falta do que fazer, potencialmente expressado pela contaminação com o exibicionismo coletivo. E o pior, meu caro, é que você curte

Conhecimento é poder

Hoje assistindo a um episódio de Game Of Thrones ( 1° episódio da 2° temporada )  ouvi essa frase: Conhecimento é poder.

Há algum tempo diria com toda certeza do mundo que a ignorância é uma benção. Porque não saber nos poupa de muitas coisas. Não saber protege a alma das agruras do mundo, nos mantém sob um manto de ingenuidade quase infantil, uma proteção débil e ilusória, ninguém pode viver para sempre à parte.

O conhecimento descortina o mundo e te força a agir. Agir conforme a própria consciência, não pela conveniência. A ética social e a moral devem estar em sintonia. A ignorância é um bom refúgio para aqueles cuja a verdade não tem muita importância, ou ainda, para aquelas pessoas que preferem não ver, porque ao tomarem conhecimento daquilo que fogem, serão obrigadas a reagirem. Omissão é irmã da covardia.

E pensando nisso acabei me lembrando de um dos meus professores do curso de Direito. Sociologia Jurídica é uma disciplina superficial (isto é, não é uma disciplina puramente jurídica) que busca debater a sociedade, o controle da sociedade e em como o Direito transita e altera o curso de todas as coisas. Entre o seu programa de aula, há um grande número de textos sobre Karl Marx e Lenin, incluindo uma exaltação clara e bastante perigosa acerca de Marx. Àqueles alunos cuja curiosidade não se acentua e aceita todas as teorias sem questionar e sem buscar outras fontes, são covardemente doutrinados. Como as ovelhas sem visão periférica, ouvem o som da voz do pastor e a seguem.

De todos os doutrinadores do Direito, esse professor era o único que não aceitava o debate, e se por algum motivo alguém discordasse do que ele dizia, era hostilizado e chamado de burro perante a sala. Nesse mesmo episódio de Game of Thrones, logo após Lorde Petyr Baelish dizer à Cersei Lannister que conhecimento é poder, ela mostra toda a sua autoridade sobre ele e profere: poder é poder.

Quem detém o poder guarda as chaves do certo e do errado, mas mais importante do que isso, ele tem decisão sobre o que mostrar. Há hoje (e talvez tenha sido sempre assim) uma imensa doutrinação nas universidades, muito mais do que o lecionar e direcionar o aluno ao pensamento crítico. Oras, se eu só leio e aprendo sobre A, como poderei questionar B? A universidade não é uma fábrica de inteligência, ela é na verdade, uma forjadora de genialidade. Forjadora não no sentido pejorativo da palavra, mas ela ( a universidade) é quem modela, lapida o que já foi criado. Dar chances e a oportunidade de discutir as duas faces de uma moeda é o mais genuíno conceito de Direito, de fazer Direito e com ele esperamos fazer a sua justiça. Irônico e um tanto contraditório, para um curso de Direito.

Conhecimento é poder e deve ser maior do que o poder pelo poder. Poder pelo conhecimento é uma arma afiada que poucos sabem controlar e conduzir. Eu espero que os últimos acontecimentos no país abra os olhos da juventude brasileira, principalmente as de nível superior, onde a responsabilidade dos atos é mais cobrada. Há um ano o Brasil vive uma atmosfera diferente e mais questionadora. Certas doutrinas vêm sendo quebradas, o tempo do ‘poder é poder’ acabará, só restará o conhecimento dos bravos guerreiros que cultivam a verdade.